Publicado por: Amauri Nolasco Sanches Junior e Marley Cristina Felix Rodrigues | 4 de fevereiro de 2016

Inclusão e independência

 

A questão da liberdade das pessoas com deficiência é uma questão que venho notado já faz um tempo dentro do segmento, pois por mais que as pessoas com deficiência tenham uma vida independente de qualquer coisa, sempre existem pessoas que são presas a família. A questão pode até ser uma questão moral, ou uma questão de gratidão eterna, mas em alguns aspectos, essa questão beira a uma dependência afetiva. Como lhe dar com a questão de sempre achar que o pai e a mãe devem cuidar do deficiente a vida inteira? E pasmem, são pessoas maiores de idade, são pessoas que tem uma independência financeira, uma independência até mesmo, de sair na rua, mas tem uma forte dependência emocional. Daí que começa meu questionamento:  será que que as próprias pessoas com deficiência têm mesmo que depender tanto das pessoas mesmo tendo um trabalho e pagando suas contas?

Mas as pessoas podem me questionar: “Ah Amauri, mas você mora com seu pai e ele paga as necessidades suas”. Daí eu respondo com que ele me disse: ele paga minhas contas porque ainda existe discriminação dentro da área de trabalho, porque o mesmo estudo que ele deu aos meus irmãos, ele pagou todos os materiais que usei para fazer os meu (menos de publicidade que foi eu que paguei tudo). Portanto, ele realmente gostaria de me ver bem-sucedido tanto na área de publicidade, quanto na área de técnico de informática e os dois são técnicos como dizem pegar. Porém não basta fazer milhares de palestras, fazerem milhares de leis, milhares de resoluções e as próprias pessoas com deficiência terem uma dependência emocional com o pai e a mãe, uma gratidão que não poderia ser uma dívida, mas que se revertesse em independência completa. Mas poucos se interessam ao que é de sua própria natureza, sua capacidade pensante e não só, o sentir.

Quando eu escrevi o livro O Caminho, eu queria colocar isso dentro do livro sem agredir a escolha de cada pessoa e daí nasceu o personagem Vanessa Albuquerque. O personagem Vanessa é uma moça que já tem uma independência mesmo sendo seu pai um rígido comerciante do interior, mas que ela conquistou com perseverança e força de vontade. Mesmo sem saber, Vanessa era sustentada pelo seu pai, mas mesmo assim, não se curvava a suas vontades e nem a sua religião. O personagem Vanessa tem muito do que acho que as mulheres com deficiência deveriam ser, pois mesmo com uma deficiência do pé e da mão, ela se sentia uma mulher como qualquer mulher no mundo. Um personagem feminista? Não acho que a Vanessa é um personagem feminista, acho que ela pensa que somos seres humanos, seja mulheres, sejam homens, sejam homossexuais, sejam negros ou brancos, vermelhos ou amarelos. Há até um simbolismo dentro até da aparecia da Vanessa e até os cabelos vermelhos que só quem ler o livro, vai saber e vai saber muito do que penso no assunto.

Então, como contornar isso sem ao menos ofender quem você ama? Pois amar não é o mesmo de ser uma pessoa dependente daquela pessoa, como no caso da Vanessa, que por mais que ame seus pais, sempre gostou de morar sozinha e fazer tudo sozinha sem medo de ser feliz. A liberdade não é só lutar por nossos direitos, liberdade é ser um humano que entende esses direitos e entende a liberdade do outro. O que pensar dos pais que tentam prender os filhos fazendo chantagem emocionais? Por que temos que eternamente ter uma dívida a família que por obrigação, cuidar de você e te acolhe? Isso se chama responsabilidade e não caridade, a caridade é uma coisa muito mais social do que familiar, porque a família tem outro laço do que caritativo. Ora, não que ela não é importante para o ser humano num modo social, mas não é o único meio de se garantir uma evolução como ser humano, porém, devemos respeitar a família como uma acolhedora que aceita cuidar e queiram ou não, se aceita cuidar de você como é e não como poderia de ser. Devemos sempre salientar que a ideia de família, só é desenvolvida do século vinte em diante, antes disso, se tinha família como uma status social. Ou seja, a família é sim uma cultura social pós-moderna. Aliás, como mostrou o filme curta “CORDAS”, pessoas com deficiência elas eram deixadas num orfanato e não eram criadas junto a família. Isso reforça e muito a ideia da família como uma status social.

Como contornar isso? Como mostrar que podemos sim sermos seres humanos?

Amauri Nolasco Sanches Jr, 39, escritor

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