Publicado por: Amauri Nolasco Sanches Junior e Marley Cristina Felix Rodrigues | 12 de janeiro de 2016

O mundo é dos bravos

Estranhamente essa semana ouve nos grupos sobre inclusão de pessoas com deficiência o assunto sobre o Roberto Carlos, que além de ter um talento excepcional é amputado. Isso mesmo. O “rei” simplesmente, perdeu uma das pernas num acidente de trem aos 6 anos na cidade onde nasceu no Espirito Santo. O que mais assustou não foi a atitude do cantor diante do fato de mostrar a sua deficiência, foi ler as próprias pessoas com deficiência acharem que ele está certo em esconder a deficiência. Como assim esconder a deficiência? Será que ele está certo esconder sua condição só para ganhar fama e se ganhou, não poderia usar sua deficiência para ajudar outras pessoas na mesma condição? Não estou negando o direito do Roberto Carlos de esconder o que ele não quer mostrar, mas estou questionando que muitas pessoas com deficiência estão realmente, em pleno 2016, em querer esconder aquilo que realmente é uma condição que realmente, não vai mudar tão fácil assim. Até vi “paladinos da inclusão” incentivarem as pessoas a fazerem isso mostrando um mundo encantado da ciência dizendo que estão descobrindo maneiras de reverter as deficiências, que realmente, serão para poucos que tem recursos financeiros para tal. Quem tem dinheiro para colocar fios de ouro na medula espinhal? Quem tem condições de ter uma prótese de titânio? Quem tem condições de ter uma cadeira de rodas de fibra de carbono? Ter condições é muito bom, mas num país igual o nosso, essas condições são para poucos.

O problema que sempre vão olhar o Roberto Carlos e outros que superaram a deficiência como “exemplos de superação” e não são nada, tiveram seus defeitos, tiveram suas desavenças e suas “sacanagens”. A deficiência não é parâmetro para medir caráter de ninguém e não é por causa da deficiência, por causa de qualquer limitação, somos “santos” e nem “demônios” também, somos simplesmente, humanos. Podemos fazer “sacanagens”, podemos ser “sem-vergonhas”, podemos ser mal educados, podemos ser mal caráter, podemos ter qualquer defeito ou qualidade como qualquer pessoa. Temos uma educação limitada demais para saber separar uma coisa com a outra, respeitar o cara pelo talento e pela música nada tem a ver com a deficiência que ele tem. É apenas um “rotulo” que deram as pessoas com deficiência que classificam o lugar que essas pessoas – no qual eu me incluo – devem ficar, como se fossemos um caso à parte da humanidade. Mas não somos. As doenças e deficiências, muitas vezes, são erros humanos e a falta de preparo em alguns setores e até mesmo, no caso do “rei”, a tecnologia e a ignorância do funcionamento dessa tecnologia, leva a também sequelas e a deficiência. Quantas pessoas foram atropelados e perderam seus membros? Quantas pessoas perderam os movimentos em acidentes de carro? Quantas pessoas tiveram sequelas de Talidomida (remédio para enjoou) fabricados pelo homem? Os vírus que saem das florestas graças a ação humana? Quantos partos sem um pediatra nascem pessoas com paralisia cerebral? Somos bem produto do meio onde vivemos, pois são esses erros humanos que fazem surgir as mais variadas deficiências.

Porem nada é tão ruim que não possamos ir muito além do que podemos ir, pois o ser humano tem a capacidade de sempre superar alguma limitação. A vida não é tão dura assim que não possamos enfrentar as duras provas, as duras incapacidades de enxergar sempre o lado bom das coisas. Para mim não há motivo nenhum do Roberto Carlos ficar com a “gemedeira” dele de achar que a vida foi triste, porque ficou vivo e só perdeu uma perna, não morreu e nem teve sequelas mais graves que poderiam ser muitos piores. Teve uma mãe que amou ele mesmo sem a perna, teve uma esposa que amou ele sem a perna, teve toda a sua fama e grana mesmo sem a perna, então, a perna não te fez falta pelo simples fato de ser cantor. Talvez o único exemplo que ele possa nos dá é que o dinheiro não traz nada, não deu a ele uma máquina do tempo para evitar o acidente, não evitou nem a morte da esposa de câncer. As pessoas podem ganhar dinheiro e terem uma vida confortável, é um direito de todos, mas achar que isso vai suprir todos os nossos sofrimentos, é uma grande mentira. Quem acha que o dinheiro traz felicidade poderia rever conceitos, poderia rever que o egoísmo – todo egoísta é um cara fechado em si mesmo e não consegue enxergar o que temos de melhor no mundo – não te faz reservado e nem te preserva, apenas te faz ter uma visão limitada da situação e o mal agradecimento daquele que te deu a vida. Essa é a visão que tenho do “rei”, uma pessoa limitada e teve uma visão do senso comum da deficiência, um egoísmo não de mostrar ou mostrar a deficiência, mas remoer aquilo que não teve jeito de consertar. Talvez, ele não teve coragem de encarar o mundo como é e criou um personagem, um Roberto que não existe e só alimentou o mercado fonográfico brasileiro. Quantos deficientes também não encaram a verdade? Quantas mulheres com deficiência têm que tirar uma foto sorrindo, tem que se maquiar ou tirar foto pelada para se sentirem “vistas “e homens tirar fotos sem camisa? porque criamos um personagem daquilo que não existe.

Talvez esse é o motivo das pessoas apoiarem tanto a decisão do “rei”, pois tantas pessoas não tem coragem de encarar o mundo como ele é e nas condições que ele apresenta, não como mais um mundo encantado onde todos têm direitos e não existem deveres. O mundo pertence aos bravos que sabem lutar e não dos fracassados e fracos que só são um bando de ressentidos porque seu orgulho te faz querer aquilo que não te pertence ou não serve para você, assim como, a deficiência não matou ninguém. Não culpo a mídia, não culpo a cultura, pois nós construímos o mundo onde vivemos e é isso que nos fazem seres diferentes.

Amauri Nolasco Sanches Junior, 39, publicitário, escritor e filosofo.


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