Publicado por: Amauri Nolasco Sanches Junior e Marley Cristina Felix Rodrigues | 19 de dezembro de 2015

Inclusão de pelados – sexualidade de modo errado

Vicki e Thomas, um casal com paralisia cerebral. o projeto dinamarquês LigeLyst promove a educação sexual de jovens com paralisia cerebral, amputados, cadeirantes e outras condições.

 

Gosto de nudez na arte e não acho que isso ofende a espiritualidade, mas a nudez em fotos deveria ser muito bem pensadas antes mesmo de serem expostas. Mulheres com deficiência são mulheres acima de tudo e devem ser respeitadas como tal, devem ser amadas e devem ser mostradas como seres humanos que são, claro, com todos os significados que todas as mulheres merecem. O que acho meio perigoso é achar que a mulher com deficiência deve ser exposta como “objeto” e não como seres humanos, pois a nudez no caso de uma mulher que contem deficiência – mesmo que queiramos incluir essas mulheres no cenário mundial – acabam vendendo a imagem de mulheres vulgares a procura apenas de prazer, a intenção é positiva, mas nem todo homem assimila uma intenção diante de um corpo nu ou um decote. Não são ingredientes para um assedio sexual ou um estupro? Alguns dizem que não, que mulheres com deficiência devem se expor como qualquer mulher, outros dizem que sim, as deficientes podem se defender e não é bem assim que a coisa anda. Existem deficiências que não podem se defender, existem deficiências que não se pode nem expressar o que esta sentindo. Quantas mulheres com deficiência mental são estupradas todos os dias? Quantas mulheres com deficiência são assediadas todos os dias? Enquanto as pessoas não colocarem o afeto no debate sobre sexualidade, o debate sempre vai cair na vulgaridade e nunca vai evoluir como um debate maduro e sempre, acharão, que somos um bando de adolescentes eternos.

Hegel – filósofo alemão do século dezenove – pensava que a arte era muito mais que do a imitação da natureza, porque vem do espirito humano. Não estamos falando de arte como tal, porque o nu artístico é um nu estético enquanto corpo que vive e existe. Para definir um nu tem que se definir a objetividade do ato do nu, pois o nu enquanto mostrar o corpo enquanto esteticamente viável ou não – dai entramos no belo enquanto o que está inserido na cultura vigente – tem varias situações. Nesse caso o nu como sexualidade é uma estética que mostra o lado corporal da existência – que nesse caso podemos colocar como uma identidade do sujeito – enquanto o sujeito como o ente que existe e percebe a sua existência, porem, esse é o aspecto comum da arte do nu que podemos colocar como um lado positivo. Mas existe o lado animalesco – quando o homem que coloca toda a sua bestialidade e só vê o lado sexual – porque ele não vai desenvolver e enxergar o outro como uma existência, mas o outro como um objeto do prazer mais bestial que se pode conter dentro da nossa especie, a sexualidade como um modo não do espirito do belo, e sim, a sexualidade como reprodução e prazer. Hegel defini a estética como um produto do espirito e é dai que se transforma em um fenômeno completamente do espirito e não apenas corporal, quando esse espirito recebe o tratamento para definir o ponto crucial entre a beleza enquanto o despertar de uma afetividade. A afetividade vai se caracterizar com a empatia ou simpatia do outro que atinge esse afeto, talvez, isso defini nós como animais humanos com um espirito muito mais definido e muito mais social do que se parece ser. Mas entre o espirito sublime e a bestialidade existe a educação que nos definirá como seres que respeitamos o outro como ser humano, ou apenas, vimos o outro como um objeto de mero prazer estético.

Se essas fotos quebram o estereotipo do corpo perfeito, ao mesmo tempo, dará enfase a outros problemas como a violência da mulher como um problema grave graças a educação e a ignorância popular. O que é melhor, assediar mulheres que podem se defender ou aqueles que não podem se defender e ainda dependem do agressor, muitas vezes? Essas fotos vão ou não atiçar os “devotos” com má intenção de ter sexo fácil? A arte como representação – como acontece na pintura ou em outras manifestações de imagem e som – é construída com a representação espiritual dentro do estereótipo do mundo onde enxerga o esplendor e em alguns casos, criam outros mundos dentro dessa representação. Se a foto ou a pintura só há um indivíduo, então a representação da solidão egoística aflora dentro da arte, pois o espirito está apegado ao nada e o sentimento se apaga na liquides do que é humano. Não adianta quebrar tabus colocando o ser humano não como um animal que sente, um animal que vê o outro como um ser que além de uma sexualidade há um afeto, foi o afeto que muito provavelmente, tirou o homem das cavernas. Porque graças a afetividade houve a construção familiar e havendo a construção familiar – não é uma analise religiosa – houve grande parte da construção social e tecnológica, pois não mais haveria necessidade de procurar uma fêmea. O argumento que o núcleo familiar é uma imposição social é debatido com base da moral cristã construída por uma moral judaica e que não cabe mais no debate, porque se colocarmos num âmbito cientifico, as orcas são animais monogâmicos e não existem imposição social, mas uma escolha, já que se descobriu que os cetáceo tem consciência do mundo onde vivem. A exposição do nu não pode ferir o direito do outro de não querer ser comparado a essa exposição, não ser um ser que só tem uma sexualidade, mas o que é verdadeiramente no espirito humano.

Por outro lado, esteticamente, não vejo mulheres com deficiência com estereótipo fora dos padrões que são estabelecidos, só pessoas com deficiência com aparências relativamente, esteticamente aceitáveis. De todas as fotos que podemos olhar – dentro da exposição – todas que vamos ver são mulheres com deficiência esteticamente sem condições de mostrar o que realmente consiste a deficiência, sempre mostra a afetividade entre uma mulher com deficiência e um homem sem deficiência ou vice e versa, não há deficientes como um casal. Vi uma exposição lindíssima que mostra a afetividade na nudez entre casais com deficiência (paralisia cerebral) – diferente daqui que coloca o casal como sempre um ser sem deficiência – ou o politico norueguês que pousou nu não tendo o estereótipo aceito socialmente. O debate sexualidade, pelo menos numa analise mais apurada, deve passar pela afetividade se não, não terá nunca um apoio necessário para quebrarmos verdadeiramente os tabus.

Amauri Nolasco Sanches Junior, 39, escritor e filósofos.

Exposição da Kika de Castro (aqui)


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